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Adolescentes voltam a ser o alvo das editoras literárias

Publicada em 28/09/2008 no Click 21

Por Cristina Cople

leituraVolta e meia, professores e intelectuais questionam o futuro dos livros no país. A dúvida é freqüente por causa do surgimento de novas tecnologias da comunicação, como a Internet, e a preferência por outras formas de transmissão do conhecimento.

De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pela Agência Brasil em maio deste ano, a leitura aparece em quinto lugar entre as atividades preferidas dos entrevistados, ficando atrás de ver televisão, ouvir música, ouvir rádio e descansar

O relatório ressalta que quase metade dos 172,7 milhões de brasileiros questionados não leu nenhum livro nos últimos três meses. Entre os motivos para não ler, a falta de tempo aparece como o mais apontado, com 29%. Outros 28% não lêem porque não são alfabetizados e 27% porque não gostam ou não têm interesse.

Para o presidente do Instituto Pró-Livro, Jorge Yunes, o baixo resultado está vinculado aos níveis de escolaridade. “Se a escolaridade aumentar, com certeza a leitura aumenta também”, apontou.

CLÁSSICOS

As escolas tentam fazer sua parte e indicar uma vasta bibliografia com os clássicos da literatura brasileira, o que também representa um desafio para os estudantes.

Este ano, o centenário da morte de Machado de Assis foi lembrado com vários eventos que tentavam aproximar o maior autor do país do público jovem. O criador de personagens polêmicos como Capitu – do livro Dom Casmurro – foi o homenageado da 6ª edição da Feira Literária de Paraty e foi apresentado ao público em rodas de debate.

A diversidade de estilos também é bem vista pelos novos leitores. A adolescente Tatiana Semprini tem que ler muitos títulos para o colégio. “Eu gosto de ler. Todo ano meu colégio nos manda ler livros, mas nem sempre são clássicos. Eu prefiro aqueles que falam sobre coisas que acontecem com a gente, coisas que nós falamos. São os mais interessantes!”

NAMORO, AMIZADE E FAMÍLIA

A escritora Thalita Rebouças, que já escreveu nove títulos voltados ao público jovem e, de acordo com a Editora Rocco, soma mais de 170 mil exemplares vendidos, comemora o aumento do interesse dos jovens pelos livros.

Namoro, amizade, conflitos familiares e a rotina do colégio costumam ser os assuntos em pauta nessas obras, o que garante leitores fiéis. “Acho que quando o adolescente se identifica com os personagens, fica mais fácil se habituar com a leitura, mas livros com personagens fantásticos também fazem muito sucesso. Acho que não tem fórmula. Na verdade, adolescente é como adulto: todo mundo gosta de uma história bem contada”, diz a escritora.

‘FONTE INESGOTÁVEL’

Pelo menos por enquanto, o acesso facilitado à tecnologia não têm diminuído o interesse pelos livros. Uma prova disso é a presença maciça de editoras voltadas para jovens na Bienal do Livro do Rio e de São Paulo.

Thalita Rebouças acredita que ainda há espaço para mais obras desse tipo. “Acho que a literatura juvenil tem muito que crescer ainda. Esse mercado está sendo cada vez mais explorado por autores e editoras e isso me deixa muito feliz. Adolescentes são uma fonte inesgotável de inspiração, é muito gostoso escrever pra eles.” 

Parece que a moça pegou mesmo o jeito. Em tardes de autógrafo, centenas de adolescentes fazem fila nas livrarias para pegar um autógrafo ou tirar uma foto com ela. Seu último livro – ‘Fala Sério, amiga!’ – está no topo da lista dos mais vendidos da editora.

“Eu não quero dar nenhuma liçãozinha de moral. Quero apenas divertir a galera e, claro, fazê-la pensar e tirar suas próprias conclusões”, afirma Thalita. Apesar da tendência à linguagem informal e aos temas ligados ao dia-a-dia dos jovens, a autora acredita que os autores clássicos ainda podem encantar os leitores. “Os clássicos vão ter espaço sempre”, conclui.

FANTASIA

A estudante Beatriz Moura, de 11 anos, ainda não teve contato com as obras clássicas no colégio, mas adianta que prefere as novidades do mercado editorial.

Eu amo ler principalmente livros de aventura, de ação e de ficção. Meus preferidos são: As Crônicas de Narnia (C. S. Lewis); A Bussola de Ouro (Philip Pullman); Harry Potter (todos); Condessa de Ségur (Sophie R. Ségur); Uma Fada Veio Me Visitar (Thalita Rebouças); O Caçador de Tormentas (Paul Stewart e Chris Riddel); Marley e Eu (John Grogan) e os Livros da Coleção Go Girl.”

Durante as comemorações do Dia Internacional da Alfabetização, em 8 de setembro, o especialista em educação de jovens e adultos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) no Brasil, Timothy Ireland, enfatizou a importância da leitura para o exercício da cidadania.

“(…) Hoje vivemos na sociedade da informação e do conhecimento. A pessoa que não tem acesso à escrita e à leitura acaba excluída de informações que são necessárias para garantir todos os seus outros direitos”.